E então decidi ausentar-me.
Ausentar-me da vida, da morte, das pessoas, do mundo.
Ausentar-me de mim, do que sou, do que penso, do que vejo,
do que sinto.
Ausentar-me das decepções, das surpresas, dos sofrimentos,
das alegrias.
Ausentar-me do sorriso, da lágrima, do vazio, do amor, do
ódio, da guerra, da paz.
Ausentar-me do chão, do céu, do mar, da lua, das estrelas.
Ausentar-me das flores, dos pássaros, do horizonte, do
vertical.
Ausentar-me do calor do, do frio, da chuva, do vento.
Ausentar-me dos dias, dos meses, dos anos.
Ausentar-me do indestrutível, do imutável, da intensidade,
do completo, do incompleto.
Ausentar-me dos encontros, das despedidas, das chegadas, das
partidas.
Ausentar-me da falta, da lastima, da calma, do desespero.
Ausentar-me do passado, do presente, do futuro.
Ausentar-me do claro, do escuro, da companhia, da solidão.
Ausentar-me do caminho, do destino, do acaso, da mudança, da
contradição.
Ausentar-me das horas, do tempo, das histórias, das
palavras, do silêncio, do medo.
Ausentar-me do sonho, da ilusão, da verdade, da mentira, do
real e do irreal.
Ausentar-me do igual, do diferente, da desigualdade, do
julgamento, dos problemas.
Ausentar-me da distância, da ignorância, da saudade, da
vontade, da responsabilidade.
Ausentar-me de tudo que me remeta qualquer lembrança,
esperança ou expectativa.
Ausentar-me do belo, do obstáculo, do fácil, do difícil, do frágil,
do erro, do fracasso.
Ausentar-me do egoísmo, do desânimo, do engano, do abandono.
Ausentar-me da mentira, do perdão, do rancor, da
necessidade, do eterno.
Ausentar-me do meu coração, mente e alma, da duvida, do
exagero, do absoluto.
Ausentar-me do abismo, da compreensão, da compaixão.
Ausentar-me da presença, da ausência do inconstante.
E assim por ausentar-me, serei
totalmente ausente de toda e qualquer presença da ausência.
POR: CLARA KAHENA